Falta e educação?

temos uma incrível tendência de confundir falta de educação com temperamento. Ele faz isso porque é assim ou assado, justificamos, quando, na verdade, a situação está pedindo mesmo é que entremos em campo o quanto antes para dar limite e modos ao mocinho ou mocinha. E essa confusão é mais comum do que você imagina e acontece em situações que a maioria de nós considera absolutamente normais. Duvida? Pois mostramos a seguir uma lista de comportamentos mal-educados que muitos pais deixam barato por acreditar que se devem ao jeito de ser do filho.

Não dar beijo
Desculpa: Ela é muito tímida.
Pode até ser. Mas numa família em que o beijo faz parte do ritual de demonstração de afeto, a criança naturalmente o incorpora. “Ela aprende a ser afetiva com pais afetivos”, observa a psicopedagoga Neide Noffs, professora da Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP). Ah, mas todos em sua casa são de beijar muito e mesmo assim ela não quer entrar na onda? Algumas crianças, segundo Neide, costumam se mostrar arredia a beijos, especialmente se eles partem de quem ela não conhece. São casos para se abordar com jeitinho. Não adianta falar: “Deixa de ser mal educado, menino!” Vale mais conquistá-la com frases do tipo: “Me dá um beijinho, gosto tanto de você”.
Marília cresceu numa família de sete irmãos. Nunca duvidou do amor dos pais, embora eles fossem bastante econômicos em demonstração de afeto por meio de afagos e beijos. Sem esse aprendizado, confessa que carregou pela vida afora uma certa dificuldade de abraçar, beijar e ser mais afetiva com as pessoas. E não foram poucos os que a consideravam antipática por causa disso, o que restringiu bastante seu círculo de amigos. Com seu filho, Joel, 5 anos, já foi o contrário. Marília o cobriu de beijos e afagos desde o primeiro minuto que a enfermeira o trouxe e colocou em seus braços, ainda no centro obstétrico. É um menino doce e adorável, que não perde uma chance de beijar e abraçar as pessoas de nosso convívio e os coleguinhas na escola.


Não dividir brinquedo ou doce com outra criança
Desculpa: Ele é zeloso com suas coisas (ou secretamente teme: será que meu estou criando um pequeno egoísta?)
Ele não que dar porque ainda é novinho, não sabe o que é dividir, dizem os pais. Vivían de Andrade Niklos, coordenadora pedagógica do Colégio Alvorecer, concorda: “Até os quatro anos a criança pensa da seguinte maneira: o que é meu, é meu; e o que é dele é nosso”, explica. Não é desculpa para deixar por isso mesmo quando o pequeno se recusa a partilhar. “Esse é um conceito que devemos ajudar a criança a construir desde cedo para que não vire um egocênctico no futuro”, observa Vívian. Se ele se recusa a repartir um doce, você tem todo o dever de entrar em campo, assegura a psicopedagoga Neide, e fazer a divisão pelo filho e aquentar firme o chororo. Normalmente, quando a mãe faz isso, a criança embirra e não quer a metade que lhe coube. Aí a reação comum em muitos pais é dizer: ah, é, então eu dou tudo para o fulano. “Assim ele entra na birra da criança e a ação educativa vai para o espaço. Se a criança não quer naquela hora, o melhor a fazer é dizer: ‘então, vai ficar aqui guardado para quando você quiser, pois esse pedaço é só seu.’ Assim ela entende o sentido de dividir: aquele pedaço é dela, não o doce todo”, explica Neide.
E quando a criança recebe um amiguinho em casa e fica regulando os brinquedos? Em primeiro lugar, antes da visita chegar, os pais devem conversar com o filho: ele não é obrigado a dividir com o coleguinha os brinquedos que ele mais gosta. Mas se não quiser fazer isso, deve guardá-los e deixar a mostra só aqueles que poderão ser socializados. “A criança também tem direito de ter o espaço dela, de ter coisas que ela não gosta de dividir. E isso precisa ser respeitado. Se não a gente acaba criando uma pessoa muito submissa”.


Deixar brinquedos espalhados pela casa toda
Desculpa: Puxou ao pai no jeito desorganizado.
Nada disso. A pedagoga Vívian garante que nenhuma criança nasce bagunceira. Ela se torna bagunceira quando encontra as condições ideais para isso: se há adultos que dão o exemplo dentro de casa ou se não conta com medidas educativas que a ensinem a ser organizada. “Na escola, desde o começo trabalhamos com rotinas bem definidas. Antes de passar para outra atividade, os alunos guardam todos os materiais que usaram na anterior. Com isso vão construindo a noção de organização”, explica Vívian, que aconselha os pais a seguirem a mesma política em casa. Se cansou de brincar com um brinquedo? Então vamos guardá-lo e pegar outro. Mas para que a tática dê resultados, é preciso montar um cantinho dos brinquedos, onde eles fiquem arrumados em uma caixa ao alcance do pequeno.


Falar alto, cantar, dar show interrompendo os adultos a qualquer hora
Desculpa: Meu filho é muito extrovertido
Criança adora uma atenção e faz tudo para que os adultos fiquem ligados nela. Precisa aprender, porém, que tem hora para tudo. E que as outras pessoas também tem seus afazeres, suas responsabilidades, suas ocupações. Ninguém é platéia para ela o tempo todo. Ela também precisa ter um tempo consigo mesma, com seus brinquedos, com seus amigos imaginários. Ensinamos isso a nossos filhos com atitudes. Você está conversando com uma visita e ela monta um showzinho no meio da sala? “Parem a conversa um instante para dar um pouquinho de atenção à garota, em seguida, a mãe pode dizer: ‘filha, estou resolvendo um assunto de adultos com a fulana, vá brincar em seu quarto, por favor’”, afirma Neide. O importante é dar uma alternativa à criança. Não deixá-la sem fazer nada. Um intercâmbio com a escola também pode ajudar. Lá ela aprende que tem hora para cada atividade e também que cada aluno tem a sua vez de falar ou de ser o centro das atenções. Assim também pode funcionar em casa.


Comer pouco, não comer, comer só o que quer
Desculpa: Tão pequeno e já é cheio de vontade, por isso não há mesmo jeito de fazer ele comer o que não gosta
Tudo bem. Nem todo mundo gosta de banana ou é obrigado a achar espinafre um manjar dos deuses. Mas tem criança que nem comeu e já diz que não gosta. E casos como o da Nicole, então? Patrícia, sua mãe, não sabe como explicar: “Na escolinha ela simplesmente come de tudo, verduras, legumes, frutas... Em casa, não quer saber de nada disso. É um baile fazer com que ela engula alguma coisa”, suspira.
O problema é que demonstramos uma angustia enorme diante de um filho que se recusa a comer – e ele, que não é nada bobo, nota logo que pegou em seu ponto frágil. Descobre que esvaziar ou não o prato pode ser uma boa arma de barganha. E também uma forma de ir batalhando sua autonomia, mostrando que é diferente dos pais – eles querem que eu coma cenoura, mas eu prefiro cachorro quente! Na escola ele come de tudo porque está entre iguais, vai na onda dos coleguinhas.
O segredo para lidar com os maus hábitos de uma criança com comida é não fazer disso um cavalo de batalha. Foi o que percebeu a psicopedagoga Maria Irene Maluf, mãe de Maria Paula e Maria Fernanda, percebeu isso na própria pele. “Quando era pequena, uma de minhas meninas não comia nada. Eu ficava desesperada até que um dia o pediatra dela me disse: ‘olha, nunca vi uma criança que morasse em casa que tem comida morrer de fome’. Ouvindo aquilo, caiu a ficha na hora: ela não queria almoçar, tudo bem, eu tirava o prato. Mas sempre deixava uma bolacha, um ovo cozido ou outra coisa na cozinha, ao alcance dela. Mas só coisa saudável, nada chocolate ou outra guloseima. Assim, quando tinha fome ela ia lá e comia. Aos poucos, ao perceber que eu não estavam me importando mais, ela começou a comer normalmente como todos da casa”, diz Irene.


Jogar papel no chão
Desculpa: Coitadinho, ele não faz por mal, é só distraído.
Fazendo vistas grossas para “distrações” ajudamos a degradar um pouquinho mais o nosso planeta - afinal não estamos contribuindo em nada para for-mar um ser consciente da necessidade de preservá-lo. E esteja certa, eles aprendem isso partir de pequenos gestos como o de colocar o papel da bala no local adequado: o cesto de lixo.
Dia desses Vivian presenciou uma cena muito bacana no Alvorecer, onde os alunos de educação infantil, desde o início, aprendem sobre coleta seletiva de lixo. “Um dos alunos do ensino fundamental jogou um papel de doce no chão e um dos pequenininhos que viu a cena correu atrás dele, puxou suas calças e falou: “ei, você não viu que ali tem saco de lixo?”, conta ela.
Ajuda bastante quando os pais também criam essa cultura em casa. “Em minha casa sempre mantive pequenos lixos em cada cômodo, até no quarto das crianças. Se não tem um recipiente próprio à vista, não adianta nada viver dizendo para a criança pequena “joga o lixo no cesto, menino!”. Outra medida educativa certeira é ajudar a criança a refazer a cena do modo mais adequado. Ela jogou um papelzinho de bala no chão? Pegue-a pela mão, volte ao local e diga: “Filho, vamos jogar o papelzinho no lixo?” Ela recolhe, você aponta o lugar certo para jogar e pronto: meio caminho andado para reforçar um bom hábito! Lição inversa dão aqueles pais que vira e mexe jogam pequenos lixinhos pela janela do carro. Se não há um saquinho dentro do veículo próprio para descartar pequenas coisas, deixei num cantinho da bolsa e jogue no lixo de casa.


Não ter hora para dormir
Desculpa: Ela é muito elétrica, tem um horário biológico diferente do nosso.
Deu 8 horas da noite, o filho mais velho de Simone, Vicente, 5 anos, “apaga”. Já a caçula, Cecília, 3, vai até 1 da manhã com a corda toda, se ela deixar. “Já fiz de tudo para tentar acomodar o horário de sono dela”, conta Simone. Chacoalhar ainda funciona um pouco, só haja braço para agüentar o peso da menina. Contar história não adianta, ela fica ainda mais elétrica. O mesmo acontece se colocar um DVD. Simone também já tentou a tática de dar banho tarde da noite, com sabonete de camomila, sem sucesso. Agora o que tem feito é obrigá-la a deitar às 23 horas. “Na maioria das vezes, ela chora por uns três minutos e acaba pegando no sono”, diz.
O sono é comandado pelo relógio biológico, cujos ponteiros podem variar de pessoa para pessoa. Mas ajuda bastante criar uma rotina, explica Irene Maluf. “Os pais devem habituar a criança a dormir sempre no mesmo horário e criar sinalizações para que elas saibam quando a hora de ir para a cama está se aproximando”, diz Irene. Coisas bem fáceis de identificar. Um exemplo? O sinal pode ser o final do desenho que passa às 7 horas da noite e seu filho não perde por nada. Terminou? Então, já para a cama!

Dizer tudo o que pensa
Desculpa: Olha que gracinha, como ele é espontâneo.
Não é tão gracinha quando uma pessoa obesa para pela rua e ele solta um “que gorda!”. Ou um “você é muito chato” para aquele parente de cerimônia. Criança costuma falar mesmo tudo o que pensa porque ainda não tem censura. Ainda não aprendeu que tem coisas que a gente diz em publico e outras que guardamos para momentos mais reservados. Por isso, uma das responsabilidades dos pais é mostrar a seus filhos que existem regras de convivência, e que nem sempre dizer tudo o que pensa combina com elas. “Não adianta ralhar com a criança em público, na hora em que ela solta a indiscrição. Ela vai se sentir o centro das atenções. Como criança adora isso, acaba repetindo o comporta-mento”, diz Neide Noffs.
Mas não deixe barato, em outro momento volte a falar da cena e diga porque agir daquela forma não é adequado. Que as pessoas podem reclamar, achar ela chato. E que se insistir em agir assim ela pode acabar perdendo amigos, ninguém gosta de uma pessoa inconveniente por perto.

fonte:RevistaPaiseFilhos.com.br

 
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